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LENDAS E IDEAL MAÇÓNICO | CONVERGÊNCIAS ?

Acedemos a um documento interno que se encontrava no arquivo da Grande Loja Nacional Portuguesa. Não conseguimos até ao momento perceber quais os nomes dos maçons que estiveram envolvidos neste processo. Pela qualidade literária aparenta ser um texto do Álvaro Carva, pelo menos parcialmente. O outro interveniente deve ter sido o Gil Manuel Ribeiro Filipe, outro maçon de uma outra Loja da Grande Loja Nacional Portuguesa, fundador deste nova Obediência e que ocorreu por escritura pública de 9 de março de 2000. Apesar do seu funcionamento regular e tradicional ser anterior a essa data, conforme se  confirma por documentação existente. 

Álvaro Carva num Ágape da R.'. L.'. Ibéria Fraternitas da Grande Loja Nacional Portuguesa


DOCUMENTO INTERNO



LENDAS E IDEAL MAÇÓNICO

CONVERGÊNCIAS ?



            Caríssimas Senhoras e Caríssimos Senhores, membros do Colóquio,

              Amigos!


                Fomos há dias convidados pela Comissão Organizadora do Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa a participarmos neste II Colóquio Internacional, que muito nos honra. Por opção dos meus amigos e irmãos, foi-me solicitado que fosse eu a intervir neste Colóquio com um documento escrito a ser presente para este mesmo momento. Hesitei pela amplitude do mesmo e até – com franqueza me exponho – pela falta de tempo e de jeito. Por outro, tendo sido também solicitado a intervir num outro momento, que mais adiante explicarei, fiquei com uma acrescida dificuldade para o fazer. Assim, teria que tomar opções. E reconhecendo que não podendo, no momento, intervir num dos painéis, com o tempo e a investigação necessária,  ficaríamos – e desde já o nosso renovado agradecimento – com uma intervenção para o final do Colóquio. Assim, apesar de ausente, quero, antes de mais, felicitar todos os membros do Colóquio Internacional, as equipas, os responsáveis e a prestigiada Instituição que o promove. A existência destes Colóquios reflectem a renovação das ideias, do conhecimento, da vibração espiritual, para além da grande qualidade dos seus participantes que me pareceram singularmente oportunos e pertinentes. E digo-o porque procurei acompanhar – à distância, naturalmente – as intervenções.
                Passemos assim à outra explicação que já urge e que justifica esta ausência.
Como certamente é já do conhecimento, pelas cartas-informativas que foram autorizadas a ser distribuídas pelos intervenientes do Colóquio, a Grande Loja Nacional Portuguesa estará presente no I ENCONTRO com a “Cidade”, com a comunidade. Trata-se do I ENCONTRO com o exterior que está a ser realizado neste mesmo dia e nesta mesma hora na cidade de Vila Real de Trás-os-Montes. Esta iniciativa que partiu desta Estrutura Maçónica, marcada há já algum tempo e para a qual foram convidadas diversas personalidades impares desta Cidade, da comunidade e das relações biunívocas que existem entre eles e os seus responsáveis nacionais.  E como já tinha sido assumida a minha presença perante alguns amigos, seria por isso inaceitável que não estivesse presente neste I Encontro. Mas também creiam que neste belo e interessante Colóquio nos fizemos representar ao mais alto nível. Tenho, por isso,  imenso gosto em dizer-lhe que está entre vós uma das primeiras colunas em que assenta a nossa Grande Loja Nacional Portuguesa. Creiam, assim, que é com a maior admiração que vos apresento este meu irmão que agora me faz o favor de ler esta breve prancha, para que eu possa transmitir um pouco do meu pensamento sobre o momento de oferecer às senhoras deste Colóquio o nosso sentimento.
                Mas ao fazê-lo gostaria que mo permitissem contando-vos uma lenda portuguesa que extraí de um conjunto de outras lendas. Tratam-se de histórias tradicionais, ligadas ao sentimento do povo, do povo português. Creio que para além da temática de origem cristã, encontraremos nela muito das temáticas de origem árabe. E estas lendas não deixam de marcar, profundamente, a nossa cultura, as nossa gentes, a sua vivência – o conhecimento da História de uma nação.

              Não tive, ao escolher esta lenda, qualquer preocupação a não ser que o meu objectivo final é e será, somente, oferecer esta mensagem às senhoras. Às senhoras que participaram neste Congresso. A todas as senhoras. A todas as mães. A todos os rostos femininos. Elas serão o rosto das imagens de muitas das “santas” deste nosso país: pelo esforço, pelo empenho, pela capacidade de lutar contra a adversidade.

          É com realismo, com verdade, com coragem que não poderemos deixar de avaliar tantas capacidades adormecidas, fazer inventário, para, finalmente, respondermos à questão de saber se, e como, a Maçonaria será viável com a intervenção feminina. Não tenho dúvidas, nem receio de afirmar o importante papel da Mulher na nossa sociedade contemporânea e se os maçons o não fizerem terão,  um dia, cometido cruéis mutilações. Mais tarde haverão de ser julgados pelos vindouros para além de ambicionarem uma absolvição de culpas. Por isso, na medida das minhas possibilidades, para esta tarefa, para além de um esforço árduo para mim; até por me obrigar a meter a foice em seara que poderia ser tida por alheia, dado que sou homem, maçon e um amigo dos meus irmãos. Mas já há muito me convenci, mal ou bem, mesmo assim, que as senhoras poderiam ajudar a Maçonaria a alcançar elementos úteis para o empreendimento comum.

        Claro que o hábito de dar testemunho dos trabalhos realizados aconselham-me que neste empreendimento para este Colóquio que se agora encerra, vos proponha, um dia, com a nossa participação activa, dizer-lhes o que julgo e penso sobre esta matéria. Sem receio e sem quebrar quaisquer dos Landemark que uso e defendo. Porque a reconstituição da Maçonaria terá de abranger todos os intervenientes da nossa História. Para além disso, a Maçonaria não pode ser hipertrofiada de acontecimentos no feminino e, nos últimos tempos, de ordem activa.

                Mas vamos à lenda que vos proponho contar. Trata-se da lenda da Senhora da popa. Passa-se em Alcochete, sede de concelho, comarca do Montijo. É uma vila muito antiga e que foi fundada em 850 a. C. Foi ocupada pelos Suevos, Vândalos e Mouros. D. João II escolheu esta Vila para a residência de Verão. D. Manuel I nasceu em Alcochete e deu-lhe foral em 1515. O seu Orago é S. João Baptista. Alcochete tem a romaria da Nossa Senhora da Atalaia e a festa dos Círios.

Em8 de Setembro e na primeira Segunda-feira de Agosto realiza-se a romaria a Nossa Senhora da Conceição das Matas.
                “E é pelos meados do século XVIII que vivia em Alcochete, no Distrito de Setúbal uma jovem muito piedosa chamada Conceição. Todo os pobres das redondezas a conheciam e estimava. Ela era a sua benfeitora. A que se interessava pelos seus problemas. A que tentava minorar-lhes os sofrimentos e suprir-lhes as faltas.
                Apesar de jovem e rica, Conceição não quisera casar. Estimava profundamente o seu pai, capitão da marinha mercante e, desde que ele enviuvara, a sua dedicação redobrara de intensidade. Porém, o velho marinheiro não compreendia tal sacrifício. E, num certo dia, dirigiu-se a Conceição.
                Era a hora do crepúsculo. O velho marinheiro julgou ser o momento oportuno.
- Filha, repara neste fim de dia!
Ela sorriu.
É maravilhoso! O sol está-se a despedir. Dentro em pouco virá a noite.
                É isso mesmo: o sol desaparecerá. E a noite é a morte!
Não falemos em morte! A noite é apenas a ausência da luz.
O marinheiro suspirou. Olhava o horizonte, meio confundido com a sombra.
- Filha! Também eu estou caminhando para o ocaso. A morte espreita-me. E não desejaria que ela te deixasse sozinha.

Conceição entristeceu.

Meu pai, por favor, não fale assim! Sabe quanto o estimo!
-Sei. E sei também que, por minha causa, não te queres casar.

Ela protestou:
Não é por sua causa! Sinto-me bem assim.
Mas eu tenho de olhar pelo teu futuro. Seria horrível, ficares só no mundo até fazeres a derradeira viagem!

Ela tentou gracejar.
Que ideia a sua ! Fez-lhe mal este fim de tarde!
Dizes bem. Fez mal, porque também é um fim... e lembra-me o meu ...
Pai! Temos ainda muito tempo à nossa frente!
Bem sabes que não.
Ora!... Além disso.... não vejo pretendentes que me interessem.

O marinheiro encarou a filha.
Conceição, não digas tal!... Então o Rebelo....o Vasco....o Lopes da Maia.... o Gastão....

A jovem interrompeu o pai:
Por amor de Deus, não me fale no Gastão! Cada vez está mais herege!
Chega a entristecer-me.

O Velho marinheiro olhou um ponto vago. E sentenciou:
Gastão é o meu melhor ajudante. Sem ele já não poderia fazer nada do que faço.
Mas porque troça ele da miséria de Deus?
Julga-se superior a isso...
E a imagem de Nossa Senhora, que pedi para colocar no seu navio?
-Bem... Ele não concordou.... Mas como quem manda sou eu, já está colocada na popa do barco.

Como sabem vem de tempos remotos o colocar à popa das embarcações símbolos de força e de fé. Com o cristianismo, estabeleceu-se o hábito de levar imagens de santos, ou da Virgem. Ainda hoje, nos barcos de pesca como em barcos da marinha mercante, a imagem da Virgem Mãe de Deus ocupa um lugar de destaque. Por isso,


Conceição abraçou o pai, num gesto quase gaiato.
Quanto me alegra essa notícia! Agora já ficarei mais tranquila quando o pai sair para o mar. Nossa Senhora há-de protegê-lo sempre !          
Deus te oiça!

E rindo:
Se visses a cara do Gastão! Ficou furioso. Mas quem manda sou eu. Ele é o meu imediato, teve de obedecer-me!

Conceição abanou a cabeça.
Faço ideia! Fartou-se de blasfemar!
Suspirou fundo e conclui:
Que Deus lhe perdoe e o esclareça!

Algum tempo passou. Veio o dia do comandante se fazer de novo ao mar. A atmosfera estava carregada, ameaçadora. Dizia-se que o navio não se libertaria do temporal anunciado pelas previsões dos mais antigos.

Conceição despediu-se do pai, escondendo a sua preocupação. Foi com ele até ao cais. Avistou Gastão, que veio falar-lhe.

É preciso partir para ter a dita de ver o rosto mais belo que, até hoje, me foi dado a contemplar.

Ela sorriu, retorquindo:
Leva consigo outro rosto ainda mais belo!

Curioso, ele perguntou:
-Qual poderá ser ?
                - O de Nossa Senhora, que o meu pai mandou colocar à popa do navio.
                Gastão deixou de sorrir. Franziu as sobrancelhas. E exclamou:
Que pena a Conceição ser tão beata!
Por que o lamenta?
Porque, se o não fosse, faria de si minha esposa.

Conceição atalhou, muito séria:
Não penso casar-me. Por isso, não lamente o que me dá tanta felicidade.

Gastão tentou gracejar:
Não é felicidade o que leio nos seus olhos: é preocupação.

Ela concordou:
Na verdade, o estado do tempo preocupa-me.
Por causa do seu pai?
Por todos. Mas principalmente por ele.
Deixe-o comigo! Prometo fazer tudo para que nada lhe aconteça.

Ela estendeu-lhe a mão.
Confio em si. Vou ficar em casa presa às noticias que me chegarem.

O Vento começava a levantar-se. Ao largo, uma barra de cor cinzento-escura pressagiava tempestade. Conceição beijou o pai, recomendando-lhe cuidado. E voltou para casa.

No mar alto, as vagas cresciam como montanhas. O vento sacudia o navio. Quase toda a tripulação e os passageiros tinham recolhido. Os mais conscientes começaram a apercerber-se do perigo. O navio, já cansado de tanto sulcar os mares, parecia agonizante, enfraquecido ante a gigantesca procela. As ondas varriam o convés. Os poucos tripulantes que se conservavam na luta contra os elementos caíam, por vezes, desequilibrados pelo vento e pelo balanço do navio. Sentindo a gravidade do momento, o comandante arrastou-se até à popa, para orar à imagem da Virgem. Vendo-o, Gastão enfureceu-se.

Comandante, não é com palavras que nos salvamos! É preciso fazer alguma coisa!

Elevando a voz sobre a tormenta, o velho comandante replicou:

Pois salvem-se! Eu morrerei no meu posto!

Gastão proferiu uma praga, exclamando:
Não vê que o não deixarei morrer ? Hei-de salvá-lo, custe o que custar!

Olhou a imagem colocada na popa e declarou:

                -O peso dessa santa está a desequilibrar o navio. Vou deitá-la ao mar!

                O comandante gritou:
Proíbo-te que o faças!

Gastão parecia o demónio gritando no temporal, o rosto encharcado pelos sulpicos das vagas:

                -Eh, rapazes, agora quem manda sou eu! Agarrem o velho! Não o deixem mexer-se! E tu, Inácio, encarrega-te de deitar a santa ao mar. Talvez, com menos peso à ré, o barco endireite a proa.
O rapaz interpelado olhou o comandante, que esbracejava agarrado por outro marinheiro. Hesitou. Mas o imediato gritou-lhe colérico:

Vamos! Porque esperas ? É uma ordem !

Inácio avançou para a imagem de Nossa Senhora. Gritando, já rouco, o velho comandante sentenciou:

O castigo do céu cairá sobre todos vós, desgraçados !

Gastão vociferou:

Velho beato! Pois não vês que é para teu e nosso bem ?

E voltando-se para o marinheiro:

                Então? Quando acabas com isso?

Vai já, pronto! Vou dar aos peixes a santinha! Que lhes faça bom proveito!

Nesse momento exacto, algo se passou de pavoroso. Ao atirar a imagem pela borda fora, Inácio desequilibrou-se, envolvido por uma vaga maior e desapareceu no redemoinho das ondas com o seu precioso fardo. Mas logo outra onda, ainda maior, varreu o convés, fazendo inclinar o barco, tão violentamente, que em breve metia água. A tripulação que estava no convés sumira-se nas águas. Dir-se-ia o fim do mundo, no choque tremendo dos elementos em fúria.

                A essa mesma hora, em casa e defronte de uma imagem da Senhora da Conceição, a jovem filha do comandante, que pressentiria o tremendo temporal, implorava, chorando:

Senhora da Conceição, minha madrinha e protectora! Salvai o meu pai! Por tudo Vos peço! Se necessário for, ofereço-Vos a minha vida em troca da vida do meu pai e da salvação do Gastão, para que ele se arrependa e creia em Vós e em Deus! Ele é bom! Apenas não foi criado no ensinamento de Deus! Salvai-os, Senhora, mesmo em troca da minha vida!

No mar continuava a tragédia. De súbito, pela vontade divina, surgiu à superfície das ondas, agora menos revoltosas, a imagem de Nossa Senhora da Conceição. E essa imagem arrastava consigo dois corpos desfalecidos: o do velho comandante e do seu imediato. Vogava ao sabor das ondas, de segundo a segundo mais calmas. E a tempestade amainou. E a imagem de Nossa Senhora, arrastando os dois corpos desfalecidos, foi dar às Matas, entre Samora Correia e Alcochete.

                Quando o povo teve conhecimento de tamanho prodígio, logo ali acorreu. Já reanimados, o comandante e o imediato do navio naufragado olhavam em volta, perplexos. Por fim, o velho homem do mar exclamou:

Só nós dois nos salvámos! E foi graças a Nossa Senhora! Operou-se um milagre! Gastão, acreditas agora?
Perturbado, mal crendo na realidade, Gastão apontou para a imagem:

Olhe, meu comandante! Olhe bem para o rosto da jovem Conceição!

O comandante olhou a imagem da Virgem Santíssima. Os seus olhos abriram-se num espanto. Era verdade. As feições de sua filha estavam marcadas no rosto da mãe de Deus!

                A nova correu célere. Procuraram a jovem em casa. Mas encontraram-na morta, para uma grande viagem! De facto, Conceição partira, porque oferecera a sua vida em troca da salvação do pai e daquele por quem o seu coração batia em segredo.
                Os populares transmitiam, de boca em boca, o que acabara de acontecer. Levaram em procissão a imagem da Virgem, a quem já chamavam Nossa Senhora da Conceição da Popa, para a igreja matriz de S. João Baptista, em Alcochete.

                No meio dessa multidão de fiéis, que se juntavam de todos os pontos das imediações, caminhava  um homem absorto, como sonâmbulo. Era Gastão, convertido, amargurado, desejando apenas penitenciar-se. Quem o via julgá-lo-ia orando. Mas quem mais se aproximasse ouvi-lo-ia exclamar.

O rosto de Nossa Senhora é o rosto da Conceição! O rosto da Conceição! Acredito! Acredito no milagre! O rosto de Nossa Senhora é o rosto da Conceição!...”



Os traços aqui esboçados nesta lenda bastarão para concluir no sentido de que numa outra perspectiva,  na actual, muitas mais mulheres poderão ser algumas das “santas” de ontem, pelo esforço, pelo empenho, pela capacidade de lutar contra a adversidade pelo seu contributo efectivo e imprescindível na sociedade contemporânea. Hoje, como ontem, as mulheres podem continuar a ter uma procedência remota. O sentido de santidade atribuído procura quebrar a tentação e o pecado das primeiras narrações do Génesis, para além de modelos do Antigo Testamento, da Grécia e de Roma que fazem alusões pouco favoráveis à Mulher. O que parece realmente estar implícito na mulher é a sua incapacidade de resistir às investidas a às paixões. Obras da corte mostram-nos o sentimental, as galanterias e a finalidade de uma satisfação pessoal do homem. Mas os vícios da mulher entusiasmam os príncipes, os tratados, as obras. Homens e mulheres procuram na sua própria essência da moralidade os seus próprios códigos de conduta. E é aqui que a Maçonaria pode ter um dos seus maiores papéis na História humana. Ontem, como hoje, os valores maçónicos ajudam-nos a prescrever mas, fundamentalmente, a vivermos, cada um de nós com  a maior intensidade os nosso ideais em que acreditamos. E aqui julgo poder fazer o reencontro ou a convergência entre a lenda e o ideal maçónico.

Compete às senhoras e senhores membros deste Colóquio tirar a utilidade desta lenda. Colocando o sentido religioso numa outra estrutura e nível; que utilidade podemos retirar da lenda?

Mas nenhuma matéria pode reflectir melhor – para além da literatura - o que uma lenda pode arrastar do espírito da sociedade e, em particular, de cada individuo. Refiro-me às ideias ou estereótipos, de ancestrais raízes na coincidência de um povo e que suscitam determinados sentimentos e atitudes. Um legado cultural que, moldado por experiências pessoais, acaba por ter uma expressão individual e colectiva.  Mas esta resposta à mulher e num período como o século XVIII que também é propicio em manifestações anti-feministas e, sobretudo, com uma baixa estima ou degradação feminina. Então, que ideia se tem da mulher? Que convicções? Que sentimentos suscitam? Que reacções individuais e sociais despertam? Que capacidades? Que grau de exigência alcançam?

Como curiosidade, permitam-me ainda referir que a suposta palavra mulher surgiu de maneira intencionada, para dar o nome a essa condição de mulher:
“ A mulher é mole e terna, donde por isso em latim se chama mulier, que quer dizer mole”
(Fray Martín de Córdoba, Jardín de nobles doncellas, Colección Joyas Bibliográficas, p. 16

Um outro factor tem a ver com o pecado. A tentação e o pecado são vínculos indissociáveis da Mulher.  Recordemos algumas orientações de uma outra época, como Calila e Dimna y Sendebar, obras anónimas de inspiração e “ O espelho dos leigos”, o livro dos exemplos.

Por isso, cabe-lhe a si aderir à rotina aceite e estabelecida ou, se porventura esta lenda o ajudar constituir-se como um ponto disponível para um estudo mais profundo que agora me limitei abordar. Ao homem que, desde sempre, definiu a Mulher como virtuosa ou má mulher própria de um quadro de valores que ajudou a formar deve, agora, reflectir sobre esse passado de referências. Aos maçons cabe-lhes, fundamentalmente,  o papel do esclarecimento e de, posteriormente, permitir à mulher desenvolver os seus próprios quadros e referências. Da nossa parte contem com a total disponibilidade.

Por último, não seria justo nem legal se não os informasse da gratidão que tive em ler um livro: Lendas de Portugal de Gentil Marques, publicado pela Editora Âncora e donde retirei a referida lenda que vos foi apresentada.

Para terminar queiram, simbolicamente, cada um dos meus amigos receber o meu terno e abraço amigo, fraterno e sincero  daquele que estará sempre à vossa disposição.

A Oriente de Portugal, 14 de Junho de 2000

Um Mestre Maçon da  Grande Loja Nacional Portuguesa,
              
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